quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Lágrimas

Há dias, uma mulher cansada, já marcada pela vida, parecida com tantas outras aproximou-se devagar da mesa que ocupava numa esplanada e, sem controlar um choro miúdo e constante, pediu-me lume .
Começou a dizer baixinho que os seus queridos filhos recebiam pontapés do pai e acabavam batendo com a cabeça na parede cada vez que queriam aproximar-se para lhe dar um carinho.
O seu choro era mais intenso quando repetia que os meninos nunca tinham dito nada, até agora, já homens, para não causar tristeza na mãe. Por fim, de maneira quase inaudível, confessou que esse pai era o seu marido há trinta e cinco anos, agora com uma doença degenerativa que o prendia à cama. O carrasco dos filhos dependia dos seus cuidados constantes e ela tratava-o com o amor que sentira por ele ao longo de tantos anos.
A mulher não queria respostas nem consolo.
Acabou o cigarro, pediu desculpa pelas lágrimas e foi-se embora.

1 comentário:

  1. Lindissima história duma linissima senhora, de coração grande e espiritu delicado.
    Obrigado e feliz 2011

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