sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
Encontros
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
Lágrimas
domingo, 12 de dezembro de 2010
Vai acontecendo
Poderia a qualquer momento desistir, desistir de coisas, de ideias, de vontades até mesmo de sentimentos, mas não consigo desistir de pessoas. Talvez seja esta dependência que tenha permitido que o centro da dor nunca fosse exclusivamente um eu imaturo e sofredor, mas outros tantos que, apesar de tudo, transformam-me sempre numa pessoa capaz de conviver com todas as outras em mim.
Afinal, falando com todas, sinto ridícula a dor de uma ou relativa a frustração de outra.
No entanto, por vezes, todas as vozes se confundem e fico paralisada e muda, tentando não perder nada desta conversa impossível.
Sei que sou tudo isso, apesar de não poder viver assim. E não consigo desistir de nenhuma das vozes que falam em mim. Com o tempo, tudo parece mais confuso, ao contrário do que sempre me disseram.
Tão pouco encontro sentido nisto.
Aliás o único sentido que alguma vez encontrei, foi o de transformar a vontade em acção e de perder-me até ao ponto da acção transformar-se em vontade, e assim esvaziar-me de energia e deixar-me esgotada e vazia.
E só existe o que se faz.
Pensar que sou tudo o que faço, tem-me deixado muito irritada comigo. Por vezes, só por uma questão estética, por vezes ética e, por vezes, para ser sincera, isso também se confunde.
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
Acordar
terça-feira, 20 de julho de 2010
o remorso de baltazar serapião de valter hugo mãe
sábado, 3 de julho de 2010
Acontece
domingo, 27 de junho de 2010
SIM/NÃO
Sim, agarraria a tua mão desaparecida
Sim, procuraria a tua boca já distante
Sim, por ti faria a loucura parecer tranquila
E a dor ter a cor do beijo
Sim, por ti imaginaria uma história bonita
Que acabaria onde as outras começam
Sim, acomodo os meus braços ao vazio
Aconchego o coração nas nuvens da noite fria
Sim, digo que sim
Para ouvir em mim o teu eco.
-------------------------------------------------------------------------------------------------
Não, não ficarei feliz quando partires
Não, não saberei mudar o choro em riso
Nem a dor em esperança
Não, não saberei cuidar de mim
Não saberei se o amor vive sem os beijos
Não, não sentirei o teu coração bater comigo
Não poderei preencher o vazio dos meus braços
Com palavras sensatas e distantes
E o não
Como farei para apagar a sombra
Desta palavra que cresce, se arrasta
Trazendo consigo rimas
( e eu que não gosto de rimas)
Que ficarão esperando ( solidão? Rejeição?)
segunda-feira, 14 de junho de 2010
Depois de morrer aconteceram -me muitas coisas de Ricardo Adolfo
quinta-feira, 10 de junho de 2010
Desistência
Vou esclarecer qualquer dúvida : o livro está abandonado, esquecido no meio de outros que vou lendo. Não sei se o abandono é definitivo ou passageiro, mas prefiro apagar o seu título.E a verdade é que não me apetece ler esse livro cujas primeiras 400 páginas já percorri : a viagem foi longa ( e não saiu do mesmo sítio).
segunda-feira, 7 de junho de 2010
A Cidade da Alegria de Dominique Lapierre
No entanto, este relato de experiências frágeis e insignificantes, num mundo de carências e necessidades de toda a ordem, cativou-me.
O bairro da lata mais pobre de Calcutá e os seus habitantes, esquecidos e transparentes aos olhos dos que não partilham o seu destino, transfigura-se num universo onde quem nada tem luta todos os dias por um dia mais. Um universo onde quem quer aliviar um pouco todo este sofrimento tem de aceitar modestamente que nada pode fazer salvo estender ao seu vizinho uma mão caridosa ou dirigir-lhe uma palavra amiga.
O único milagre realizado pelo padre e o médico que partilham o dia-a-dia desta " Cidade da Alegria" é terem visto pessoas onde os outros vêem "gado" para todo o serviço.Devolver o nome próprio a cada pessoa é devolver-lhe a dignidade, até mesmo nas condições mais "desumanas" .O padre rezava por cada um , qualquer que fosse a sua religião, e todos aceitavam as suas preces como um bâlsamo divino.
Como dizia Madre Teresa de Calcutá que se dedicou aos que eram menos que nada, os leprosos,os que nem neste bairro da lata tinham lugar : " Tudo isto é uma gota num oceano, mas o oceano precisa de cada gota."
.
quarta-feira, 19 de maio de 2010
Meio Sol Amarelo de Chimamanda Adichie
Leio alguns escritores africanos cuja língua é o Português. Leio notícias, vejo reportagens, fotografias. Conheço relatos de guerras, massacres, secas, fome e morte ( principalmente através das palavras bem intencionadas de europeus ).
Também recordo algumas campanhas, sempre acompanhadas de belas canções, para ajudar crianças, populações famintas do país X ou Y, algures em África.
Comprei o livro de Adichie após ter visionado o discurso que fez sobre " o perigo da história única".
Ainda bem.
Adichie é uma belíssima escritora nigeriana. A sua história acompanha o tempo trágico da guerra do Biafra através de personagens cuja realidade não é " folclórica ", mas humana, universalmente humana.
E, como diz o europeu que se apaixona por uma mulher nigeriana e pela causa do Biafra ( paixões inseparáveis ): " Não sou eu que devo contar a história desta guerra.".
Adichie conta o amor, o entusiasmo, a violência, o medo, a morte, a coragem e a cobardia. As suas personagens vivem num tempo que as obriga a sobreviver no cenário de horror de uma guerra, que poderia ser qualquer guerra.
segunda-feira, 3 de maio de 2010
Sou filha e mãe
No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe
Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos.
Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.
Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.
Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.
Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.
Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!
Olha — queres ouvir-me? —
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;
ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;
ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal...
Mas — tu sabes — a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber,
Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.
Boa noite. Eu vou com as aves.
Eugénio de Andrade, in "Os Amantes Sem Dinheiro"
sábado, 1 de maio de 2010
Etty Hillesum, Diário
Creio poder suportar e interiorizar, tudo desta vida e desta época. E se a exaltação for demasiado grande, e se eu não souber mais encontrar solução para ela, nesse caso ainda me restam duas mãos juntas e um joelho dobrado. É um gesto que não nos foi transmitido a nós judeus, de geração em geração. Aprendi-o com dificuldade. É o legado mais precioso do homem cujo nome já quase esqueci, mas cuja melhor parte eu continuo a viver.
Como essa foi na realidade uma história estranha da minha parte: essa da rapariga que não conseguia ajoelhar-se. Ou, com uma variante: a da rapariga que aprendeu a rezar. É o meu gesto mais íntimo, mais íntimo do que os que tenho ao estar junta com um homem. No fim de contas, uma pessoa não pode derramar todo o seu amor sobre uma mesma pessoa, pois não?
quarta-feira, 21 de abril de 2010
Aforismos
São elegantes, vistosos e completamente inúteis.
Os de Oscar Wilde são brilhantes, contundentes e ..... perfeitamente inúteis:
" Há apenas um tipo de comunidade que pensa mais em dinheiro do que os ricos: os pobres. Os pobres não conseguem pensar em mais nada."
" A coerência é a virtude dos imbecis."
" O homem que vê os dois lados de uma questão é um homem que não vê absolutamente nada."
Não quero deixar de registar aqui o meu modesto contributo para este exercício, que,obviamente, padece dos atributos atrás referidos:
" O melhor caminho para não chegar a lado nenhum, é seguir o caminho dos outros. O pior caminho para não chegar a lado nenhum, é seguir o seu caminho."
domingo, 18 de abril de 2010
Sem título
E tu,
És o mundo
Entre o teu corpo e o meu, um mundo
Entras e sais, deixas marcas
Choro contigo, rio contigo, e canto sem saber cantar
Entre palavras vais conhecendo o mundo
O quarto não tem janelas nem portas
Nem sempre está onde estou,
É maior
Cheiras a flor
E o quarto é campo
Sabes a sal
E o quarto é mar.
Para a minha filha, Mariana, 1993