sábado, 1 de maio de 2010

Etty Hillesum, Diário

Sábado à noite [ 10 de Outubro de 1942 ]

Creio poder suportar e interiorizar, tudo desta vida e desta época. E se a exaltação for demasiado grande, e se eu não souber mais encontrar solução para ela, nesse caso ainda me restam duas mãos juntas e um joelho dobrado. É um gesto que não nos foi transmitido a nós judeus, de geração em geração. Aprendi-o com dificuldade. É o legado mais precioso do homem cujo nome já quase esqueci, mas cuja melhor parte eu continuo a viver.
Como essa foi na realidade uma história estranha da minha parte: essa da rapariga que não conseguia ajoelhar-se. Ou, com uma variante: a da rapariga que aprendeu a rezar. É o meu gesto mais íntimo, mais íntimo do que os que tenho ao estar junta com um homem. No fim de contas, uma pessoa não pode derramar todo o seu amor sobre uma mesma pessoa, pois não?

1 comentário:

  1. É sempre uma lecção a ser aprendida o facto de encontrar a Deus num campo de concentração como Auswitch, onde Ester, que assim chamava-se Etty Hillesum encontrou a Deus e apredeu a orar.
    Obrigado por partilhar o pensamento de Ester... da outra Ester.
    Abu

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